• Sobre padrões de Beleza (Tóxica)

    Quando eu era criança, na década de 80, o padrão de beleza era ser loira, alta, e ter o cabelo liso. Não por acaso, a maioria das apresentadoras infantis seguiam esse padrão. Eu mesma adorava a Xuxa. Também achava as Paquitas lindas.

    Mas eu nunca tive a pretensão de ser como elas. Vovó Hermínia era uma mulher negra. Dela eu herdei alguns traços físicos como meu cabelo crespo e o formato de meu nariz. Sempre fui uma criança baixinha (e não desenvolvi muito minha estatura ao longo dos anos). Também era dentuça como a Mônica do Maurício de Souza (isso me rendeu uns bons anos de aparelho e tratamentos dentários). Então, quem era eu para ter pretensão de ser uma Paquita? Muitas meninas sonhavam com isso (até descoloriam o cabelo), mas eu não.

    Achei fantástico quando surgiram na TV a Mara Maravilha (outra das minhas apresentadoras favoritas na época) e o Sérgio Mallandro. Uma mulher morena, com cabelo escuro (até fez um clipe caracterizada como índia). Um homem (e vamos dizer que ele não estava bem nos padrões de beleza masculinos da época, mas tinha uma personalidade fantástica). Não sabia na época, mas dentro de mim já havia uma inquietude que já me fazia questionar algumas coisas, mesmo que a criança que eu era não tinha consciência plena disso.

    Eu sofri Bullying na escola, por vários anos. Meninos me chamavam de feia. Mas eu não ligava. Nem quando eu tive que usar um aparelho que parecia um capacete (o crescimento da minha mandíbula não acompanhava o resto do meu esqueleto, a minha idade). Isso em uma cidade pequena no Amazonas foi um fenômeno (final da década de 80. Espalharam um boato pitoresco, em que eu usava aquele equipamento porque supostamente havia sofrido um acidente de carro e quebrado a minha cabeça. Agora a cereja do bolo: Meus pais teriam morrido nesse alegado acidente. Além de tudo, eu era uma pobre orfã de cabeça quebrada. Coitada.

    Felizmente, graças à boa educação dos meus pais, e acredito que por felizmente na época não existirem redes sociais, segui o tratamento com rigor e com sucesso. Não importava as críticas, eu sabia que teria benefícios a longo prazo.

    A única resistência que eu tinha, até meus 30 anos, era em relação ao meu cabelo. Ele é crespo (3B-3C). Quando eu tinha por volta de 9 ou 10 anos, minha mãe começou a alisar meu cabelo. Ela não fez por mal, era a moda da época.

    Cabelo crespo sempre foi considerado feio, de pobre. Mesmo a pessoa tendo a pele clara, como é meu caso. Executivas não tinham cabelo crespo. Até atrizes, como Taís Araújo e Juliana Paes, tinham que alisar o cabelo se queriam um espaço na televisão. Há relatos, ainda hoje, de pessoas que não conseguiram uma vaga de emprego por causa do cabelo. E isso é deprimente, para dizer o mínimo.

    Confesso que eu era uma criança um tanto preguiçosa, sempre odiei pentear meu cabelo. Porque dói às vezes (acredito que tenha sido por isso que mamãe me levava para alisar). Às vezes dá nó, uma das minhas últimas aquisições foi um pente elétrico desembaraçador (Ebay). Vou testar e depois conto.

    Mas mesmo assim, decidi voltar a usar meu cabelo natural. Era dinheiro demais (alisamento). E eu perdia praticamente o dia todo no salão. Fora os tratamentos revolucionários, como passar óleo no cabelo e pranchar (o que rendeu ferimentos no meu couro cabeludo), produtos com mau cheiro e que me faziam tossir ou passar calor, entre outros eventos.

    Decidi passar pela transição capilar. Houve um período de feiúra, onde eu ia trabalhar somente com o cabelo preso. Depois cortei o cabelo bem curto (mais críticas, pois não seria “feminino o suficiente”). Foi um processo de 3 anos, mas valeu muito a pena. Estou muito mais saudável e gosto muito mais da minha aparência.

    Então, um conselho: Se ame como você é. Que prevaleça sua vontade e não a cobrança dos outros. O mundo sempre apontará defeitos. Não adoeça por isso.

     

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