Sempre que alguém defende a volta da ditadura, ou um eventual domínio do poder por militares, eu acabo lembrando desse assunto. Não que eu deseje falar de política neste site, longe disso. A minha missão de vida é a Psicologia, e já adianto que não tenho “político ou partido de estimação”. Sou do tipo de pessoa que procura analisar as propostas e torcer pelo melhor.
Mas, por que, afinal de contas, toquei neste assunto? Essa é uma prática que está se tornando cada vez mais comum, de um jeito preocupante. Quando uma pessoa mais velha me conta o que acontecia na época da Ditadura Militar, eu vejo que para certos governantes, não há a necessidade do retorno de certas práticas, como a falta de liberdade para expressar o que pensamos.
Hoje há um tribunal na internet, que pode ser bem mais implacável e, porque não dizer, cruel que muitas punições dadas pela justiça comum.
Mas o que é a chamada “Cultura do Cancelamento, afinal? De acordo com o dicionário australiano “Macquire”, o termo refere-se a “atitudes de uma comunidade para interromper o apoio a uma figura pública, como o cancelamento do papel dela em um filme, o banimento de uma música dela ou sua remoção das redes sociais. Geralmente, essas atitudes são uma reação a acusações sobre comentários ou ações inaceitáveis socialmente”. O jornal O Tempo tem uma matéria bem interessante sobre o assunto, caso alguém tenha interesse (Cultura do cancelamento: uma nova forma de boicote). Mas, particularmente, não creio que isso ocorra somente com pessoas famosas ou públicas.
Mas, voltando à reflexão inicial, por que eu acho que não precisamos de uma ditadura institucionalizada? Pelo simples motivo de que o cidadão comum, em seu lugar de internauta principalmente, está assumindo voluntariamente o papel de censor. Eu vigio meu vizinho. Você vigia a celebridade que reside nos Estados Unidos, e por aí vai. Não temos mais direito de dizer livremente o que pensamos, e isso pode nos trazer consequências gravíssimas, como por exemplo, perder um emprego ou fechar uma empresa que garante alguns empregos. E isso, muitas vezes baseado em algo que alguém supostamente fez ou disse. Ou que não disse, porém foi mal interpretado.
Um dos exemplos de cancelamento mais famosos foi o da tatuadora Kat von D, que também possuía, até meados deste ano, uma linha de produtos de beleza. Antes de mais nada, ressalto que nunca comprei, pois nunca me identifiquei com a marca. Eu a conheci através do programa Miami Ink. Apesar de não ser tatuada, achava linda a estética dela e me chamava atenção por ser uma mulher forte em um universo tradicionalmente masculino.
Então surgiram os boatos de associação ao nazismo (por causa de ex-namorados) e o auge do boicote ocorreu por ela ser supostamente anti-vacina. Como psicóloga, não aprovo tal movimento porque, além do risco óbvio à saúde pública, algumas pessoas favoráveis espalham que vacinas causam Autismo (o que nunca foi comprovado cientificamente e, na minha opinião, esse tipo de ideia acaba causando preconceito contra os portadores dessa condição).
O cancelamento contra ela foi tão forte que se viu obrigada a se desfazer de suas ações na empresa de cosméticos (apesar de ter dito que buscaria outros projetos pessoais, todos sabem o que houve de fato). Eu entendo quem nunca quis “dar apoio” a uma marca por questões de princípios (acho bonito), mas fazer a pessoa ser massacrada a ponto de perder seu ganha-pão? E se fosse eu ou você? Ou um parente nosso? Para falar de um exemplo próximo à nossa realidade, lembremos do caso da Escola-Base (1994). E olha que naquela época, a internet ainda estava começando…
Acho o cancelamento uma atitude extrema. Essa pessoa matou alguém? Violentou? Não necessariamente. Em muitos casos (a grande maioria), disse algo inadequado. E muitas vezes pedir desculpas nunca será o suficiente. Para os casos em que realmente existiram crimes, creio que é responsabilidade dos tribunais resolverem a questão.
Muitas vezes fica-se no disse-me-disse, e arruína-se a vida de uma pessoa por causa de um boato. Ou se fica vasculhando as redes sociais da pessoas para desenterrar um podre que ela disse há 12 anos atrás (do qual você provavelmente não tomaria conhecimento se não fosse a internet, assim era a vida antes dos anos 90…). Com que intenção? Particularmente, não acredito que seja para preservar o bem-estar dos supostos ofendidos. Isso é saudável? Se me perguntarem o que meu cantor favorito disse ano passado no Twitter, eu não sei. Particularmente, só me interessa a música.
Mas creio que o problema é bem mais profundo. Trata-se da censura que estamos sofrendo, sejamos famosos ou não, de pessoas desconhecidas. A internet é pública, mas cada um de nós tem o direito de não ser hostilizado (inclusive, pode até caber processo, dependendo do caso, #ficaadica). Outro dia fui hostilizada porque dei a minha opinião sobre o filme “O Diabo Veste Prada” (aliás, pode ser que eu traga a análise de alguns filmes neste site, se achar interessante do ponto de vista psicológico). Vocês precisavam ver o tamanho do texto que a pessoa (totalmente desconhecida) fez para me ofender, só porque eu não concordo com as atitudes de um dos personagens. Para mim, era um momento de lazer, estava usando meu Instagram pessoal (gosto de falar sobre livros e filmes, procuro conversar com quem tem as mesmas preferências). Parecia que eu tinha espancado a mãe dela. Sou uma pessoa ruim, por pensar diferente? Meu crime foi supostamente ofender uma pessoa fictícia, pois tenho certeza de que o próprio ator não se ofenderia…
Ontem mesmo vi os Stories de uma blogueira, alertando sobre a grave situação que funcionários de uma franquia de cosméticos estão sendo obrigados a fazer Drive Thru (vender no estacionamento do shopping, para pessoas dentro de carros), em plena pandemia. Fato este que foi informado a ela por funcionários da própria empresa, temerosos por sua saúde. Foram ao perfil da moça acusa-la de promover Fake News, entre outras grosserias.
Então, era esse o objetivo do texto: Um convite à reflexão. Do mesmo jeito que agredimos quem é contrário às nossas ideias, estamos sujeitos a sermos agredidos quando nos expressarmos. É assim que queremos viver, com a nossa liberdade tolhida, principalmente por gente que não tem autoridade para tal? É o princípio do “chumbo trocado”, o que vale para os outros, pode um dia valer para você também. As pessoas agem e reagem.
A você, que é alvo de ataques, vou dizer algo, pelo bem da sua Saúde Mental. Não responda, bloqueie. Questione que relevância isso tem para a sua vida. E evite se envolver nesse tipo de polêmica (afinal, pessoas famosas ou não, têm direito a errar e ter sua opinião, e está tudo bem, vida que segue). Com esse simples exercício, verá que sua vida será mais leve.